30 de jul. de 2013

Su Blackwell

Alguém já disse que escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura. Literatura e escultura, duas artes aparentemente distintas, relacionadas a sentidos diferentes, uma racional, outra basicamente impressionista...

Nada disso. A inglesa Su Blackwell, nascida em 1975, reside justamente na interseção entre essas linguagens. Esculturas e instalações que têm como matéria prima os livros. Não exatamente seu conteúdo, mas o livro material mesmo - papel, capa, letrinhas, volume físico. 


Pergaminhos, papiros... O papel tem sido usado nas comunicações humanas desde sua invenção, seja entre as pessoas, seja em tentativas de se comunicar com o mundo espiritual. Su Blackwell apropria-se desse material tão acessível e o submete a um processo irreversível de destruição - ou reconstrução, tudo depende de sua visão pessoal sobre as coisas.


Para a artista, o processo se pretende um reflexo da precariedade do mundo em que vivemos - o mundo real - e da fragilidade de nossa vida, de nossos sonhos e ambições.

"Normalmente trabalho mergulhada no reino dos contos de fadas e do folclore", afirma. "Minhas personagens costumam ser meninas, inseridas em cenários às vezes até hostis, o que expressa a vulnerabilidade da infância, ao mesmo tempo em que celebro a ansiedade e a maravilha dessa fase da vida".

Segundo a própria artista, existe em seu trabalho uma certa melancolia quieta, introspectiva, reconhecível desde a escolha das matérias-primas até a seleção meticulosa de cores.  

"Quando eu era pequena", diz, "passava muito tempo brincando pelos bosques de Sheffield, mas em meu próprio mundo de faz-de-conta. Eu dava nomes às árvores e acreditava que elas me protegiam".

Seu universo artístico ficou completo já na adolescência, quando, na escola, deparou-se com um curso de Têxteis. Dali até um mestrado na Royal College of Art, em Londres, foi apenas questão de tempo. Se é que o tempo existe no mundo do faz-de-conta.

22 de jul. de 2013

Salada-mista

-É esse?
- Não!
- É esse?
-...É!
- Pêra, uva, maçã ou salada-mista?

Talvez hoje você tenha um amor. Talvez o tenha escolhido dentre muitos, é possível que você mesma tenha sido escolhida no meio da multidão. Há quem diga que os casais se escolhem mutuamente. Há até quem sustente que o amor não se escolhe, apenas se reconhece.

Bem, houve um tempo em nossas vidas em que as coisas não eram bem assim.

Você se lembra daquelas festinhas nos playgrounds, por exemplo? Ou do menino da carteira da frente, a menina da sala ao lado... Bem, sempre havia alguma maneira de socializar com pessoas que, se fossem adultas, talvez estivessem concentradas apenas em suas rotinas diárias. Crianças não. Crianças sonham, muitas vezes umas com as outras.


A regra do jogo era simples: quem ia brincar fazia uma roda. Roda formada, cada um teria sua vez. Quando chegava a sua, você devia se dirigir ao centro da roda e fechar os olhos. Alguém iria junto e taparia suas vistas, para ter certeza de que você não estaria "roubando".

Olhos fechados, seu amiguinho começaria a girar você, que estaria com um dos braços esticados, apontando para os demais amigos, como se fosse uma roleta. Até que em um determinado momento, seu amigo pararia de te girar. Aí era a hora fatal.

Parado, de olhos fechados e com o braço apontando para alguém que você não sabia quem era, você precisava responder à pergunta mais importante da sua vida:

"pêra, uva, maçã ou salada-mista?"

Pêra era aperto de mão. Normalmente apenas as meninas tímidas escolhiam pêra.

Uva era abracinho. A uva era bastante valorizada no mercado, já que abria espaço para uma aproximação física, para alguma intimidade, talvez até para uma "maçã" na rodada seguinte. Maçã era selinho. Ou estalinho. A terminologia costumava variar.

Já a salada-mista... Essa era beijo mesmo. French kiss. De cinema. Com tudo incluído. Quer dizer: algumas meninas aqui estão dizendo que o beijo de cinema era opcional. Então era questão de sorte.

Hoje talvez você escolha seus amores de olhos abertos. Ou talvez não. É possível que, até hoje, sejam a sorte e o coração que escolham o amor por você. De qualquer forma, seja na infância ou na idade adulta, o sonho e a brincadeira estão sempre ganhando novas versões em nossas vidas.


Imagem: www.sobreavida.com.br

16 de jul. de 2013

Anna Abigail Brahms

Transportar-se para um mundo de fadas, duendes, encantamento e perfeição. Quando você viaja para outros lugares do mundo em busca de inspiração, muitas vezes é com as obras de Anna Brahms que você esbarra pelas esquinas.


Nascida em Israel, formada em História da Arte pela Universidade de Jerusalém, Anna Abigail Brahms é uma figura real que habita as fábulas mais etéreas.

Em Nova York, é ela quem cria as vitrines de Natal da Tiffany, da Saks, além de figurar o elenco de artistas do Lincoln Center e até do Museu de Artes Decorativas, no Louvre, em Paris.

Suas bonecas e fantoches têm entre 30cm e 90cm, mas a expressividade nos faz esquecer qualquer escala de tamanho. Os corpos são feitos de algodão e têm uma armação de metal. As cabeças e os membros são feitos de argila, madeira, papel machê.


Os cabelos são feitos de pêlos de animais ou de seda, enquanto os olhos são de vidro. A pintura é simplesmente tinta acrílica.

O resultado obtido por Anna é aquele que se observa em qualquer verdadeira obra de arte: o transporte do espectador para dentro da obra e a transcendência sobre os materiais utilizados.