21 de jun. de 2013

Alice no País da Própria Alma

Você conhece a história de Alice no País das Maravilhas. Esse é um dos contos mais famosos no planeta, talvez no mesmo patamar de Chapeuzinho Vermelho ou Cinderela. Diferente dos demais contos infantis, no entanto, Alice é um tratado sobre a consciência humana, principalmente sobre os níveis de consciência dos quais não nos damos conta na vida cotidiana.


Escrito em 1864, a fábula de Lewis Carroll fala sobre a viagem de Alice pelo mundo que existe dentro de sua própria cabeça. Ao longo da viagem, cada personagem pode ser entendido como um arquétipo, no sentido do que dizia o psicanalista Carl Gustav Jung.

A aventura interior começa quando a menina se depara com um coelho branco, apressado, que está sempre mostrando o relógio - símbolo do tempo - e dizendo: Acorde, Alice! Está na hora! Você está atrasada! Esse coelho diz que é o momento de deixar a inércia.



Na terminologia de Jung, o personagem do coelho é um psicopompo. A palavra vem do grego psychopompós, união de psyché (alma) com pompós (guia). O nome psicopompo pode soar como novidade, mas é um sinônimo para guru - aquele que dissipa as nuvens.

A menina então é conduzida pelo coelho guru através desse mundo onírico. Viaja através de um túnel, como se diz que acontece com aqueles que experimentam estados alterados da consciência, seja por meio de sonhos, hipnose ou meditação.

Logo a seguir, encontra uma chave e uma porta, e, com eles, surge a primeira dificuldade: a porta é pequena demais. Essa imagem se refere ao tamanho de seu ego, à impressão que temos de que somos algo fixo, rígido e descolado do resto do mundo. Ilusão. Nesse ponto, a personagem ainda não está pronta. A solução então é recorrer a muletas, bengalas. É aí que entra a famosa poção mágica.

Poções não faltam à história. Você deve se lembrar de outro personagem, a lagarta que fuma, sentada em um cogumelo. Bem, você sabe que uma borboleta é uma lagarta que ganhou asas. Vale lembrar que isso não acontece por mera decisão do bicho ou por mágica da natureza. É preciso todo um processo, todo um tempo dentro do casulo, para que ela se transforme no que, em muitas culturas, é um símbolo de iluminação espiritual.

Já nas ilustrações originais da obra, existe uma personagem que é a antítese dessa iluminação: é a rainha vermelha. Repare como a cabeça dela é monstruosamente grande. O objetivo de vida dessa rainha tem sido servir a si mesma, sempre sob a ilusão de que alimentar o ego é alimentar-se propriamente. Cortem-lhe a cabeça!, diz a rainha. A cabeça dos outros, não é? A dela não, é claro. A rainha se acha esperta.



Oposta à ignorância e ao apego da rainha vermelha, existe a rainha branca, símbolo da pureza, da clareza, da mente livre. Alice precisa reaver o reinado da rainha branca, o que simula um rito de passagem, de morte e renascimento.

A história de Alice segue repleta de bons arquétipos: há até um anjo da guarda. É o chapeleiro maluco, que não se importa em arriscar a própria vida para garantir que Alice alce os vôos mais altos que conseguir.

Ao fim, a menina acaba percebendo: aquilo não passou de um sonho - isto é, você ainda acha que um sonho é apenas um sonho? Pois ela percebe onde está e finalmente é obrigada a encarar o maléfico dragão: o ego, a mente, a ilusão. Ela precisa arrancar-lhe a cabeça. E consegue.

Bem, se há uma lição nessa fábula, se há uma moral da história, provavelmente ela tem a ver com a necessidade de encontrarmos nossa verdadeira essência, o centro de nosso espírito, e o quanto o mundo à nossa volta acaba dificultando que entremos no casulo, reflitamos e nos tornemos todos belas e livres borboletas.

Uma curiosidade bastante interessante é que a protagonista da história é na verdade um homem. Nossa, é isso mesmo: parece mentira, mas o nome Alice é uma brincadeira que o autor fez com as iniciais de seu próprio nome: L e C.

Pois é: não foi à toa que a história ficou tão fascinante.

18 de jun. de 2013

Shintaro Ohata: misturando linguagens para os cinco sentidos

Nascido em Hiroshima, Japão, Shintaro Ohata tem 38 anos e enxerga o mundo de maneira completamente original. A partir de uma mistura de diferentes técnicas e mesmo de formas de arte inicialmente independentes, transforma os cenários do cotidiano em poesia multidimensional.


Pinturas, esculturas e instalações brincam com as dimensões da tela, dos objetos e do olhar, misturando realidade e inspiração de maneira intensa e mágica.

Uma menina brincando em um balanço, uma loja de conveniências, uma rede de fast-food, uma rua qualquer. Tudo é fonte de inspiração para o artista, que enxerga possibilidades até mesmo nos elementos urbanos mais triviais.


A variedade de estímulos aos sentidos que só a cidade grande pode propiciar é a fonte de inspiração do artista. Além disso, o olhar do japonês parece espontâneo sobre todas as coisas; as coisas da cidade e os materiais que utiliza - ou transforma.

Em sua obra, a tela e a armação que propicia a escultura em frente à tela confundem-se, como se coubesse à leitura do espectador o trabalho de fundir os materiais.


Uma pintura tradicional é uma obra em duas dimensões. Uma escultura tem três. As obras de Shintaro Ohata conseguem ir além, alcançando o que só se enxerga no cinema. Ou na vida real: movimento.